segunda-feira, abril 13, 2009

Torturando Palavras...


Olha que história sensacional recebi por email: Judy Wallman é uma pesquisadora na área de genealogia nos Estados Unidos. Durante pesquisa da árvore genealógica de sua família deu de cara com uma informação interessante. Um tio-bisavô, Remus Reid, era ladrão de cavalos e assaltante de trens. No verso da única foto existente de Remus (em que ele aparece ao pé de uma forca) está escrito:

"Remus Reid, ladrão de cavalos, mandado para a Prisão Territorial de Montana em 1885, escapou em 1887, assaltou o trem Montana Flyer por seis vezes. Foi preso novamente, desta vez pelos agentes da Pinkerton, condenado e enforcado em 1889."

Acontece que o ladrão Remus Reid é ancestral comum de Judy e do senador pelo estado de Nevada, Harry Reid. Então Judy enviou um email ao senador solicitando informações sobre o parente comum. Mas não mencionou que havia descoberto que o sujeito era um bandido. A atenta assessoria do Senador respondeu desta forma:

"Remus Reid foi um famoso cowboy no Território de Montana. Seu império de negócios cresceu a ponto de incluir a aquisição de valiosos ativos eqüestres, além de um íntimo relacionamento com a Ferrovia de Montana. A partir de 1883 dedicou vários anos de sua vida a serviço do governo, atividade que interrompeu para reiniciar seu relacionamento com a Ferrovia.


Em 1887 foi o principal protagonista em uma importante investigação conduzida pela famosa Agência de Detetives Pinkerton. Em 1889 Remus faleceu durante uma importante cerimônia cívica realizada em sua homenagem, quando a plataforma sobre a qual ele estava cedeu."

Não é sensacional? Palavras e números podem ser torturados pra dizer o que o torturador quiser!

Pois bem. Com as eleições dos dinossauros Sarney e Temer para as presidências do Senado e Câmara de Deputados e o mergulho de Lula na campanha de Dilma, assistimos a infindáveis sessões de tortura de palavras, que os marqueteiros do PT chamam de "construções simbólicas". É indispensável portanto preparar-se para ouvir os discursos, ler as
matérias, ouvir as reportagens.


Esse preparo começa com o estudo e com a leitura. Quem não lê não está preparado para assistir televisão, por exemplo. É a leitura que nos ajuda a construir um repertório suficiente para embasar nossas reflexões, enriquecer nossas comparações, orientar nossos julgamentos e refinar nossa capacidade de tomada de decisão. Através da leitura entramos em contato com as idéias de homens e mulheres que ao longo da história da humanidade trataram dos problemas que nos afligem. Com a leitura aprendemos como o
mundo funciona e como o homem se comporta em sociedade. Aprendemos sobre po-lí-ti-ca.



Sem a leitura acreditamos nos torturadores profissionais de palavras. E então um "não" passa a significar "sim". E vice-versa. Erros viram acertos. Ladrões são tratados como empresários. Planos eleitoreiros são vendidos como a salvação da pátria. Terroristas passam por refugiados. Assassinos transformam-se em vítimas.


Através da leitura e do estudo é possível desenvolver uma espécie de "sexto sentido" para perceber os malabarismos dialéticos, a tortura das palavras.
No mínimo isso ajuda a não fazer papel de trouxa.

Ah, ia me esquecendo! Em vez de simplesmente acreditar e repassar, decidi ler e estudar. E descobri que a história de Judy, Harry e Remus Reid é falsa. É uma mentira que circula pela internet há nove anos...

Viu só?


(*)Por Luciano Pires

É jornalista, escritor, conferencista e cartunista.


Parte II
Daqui a uns 100 anos, um descendente do Lula assim escreverá sobre o ancestral:

”Lula da Silva foi um presidente do Brasil, que tinha uma característica incomum. Apesar
de possuir o sentido da visão, era cego, nada via, o sentido da audição, era surdo, nada
ouvia, o terceiro ano primário, não lia jornais, nada sabia, e apesar de confessar nunca
haver lido sequer um livro, foi reeleito. Não deixou prole numerosa, mas um de seus
filhos, que quando o pai foi eleito pela primeira vez era um simplório guia de
zoológico, ganhando um pequeno salário para mostrar aos visitantes girafas, macacos e
jacarés, revelou-se, durante os anos em que o pai foi Presidente da República, um
talentoso homem de negócios e pecuarista. Lula da Silva, apesar da cegueira, era um
viajante internacional como nunca se vira outro igual. Visitou centenas de países sempre
se fazendo acompanhar pelo ministro das Relações Exteriores, que lhe descrevia os
cenários turísticos. Era recebido no "grand monde" político internacional, onde era tido
como uma excentridade. Fez amizades duradouras com os líderes mais importantes do mundo,
Fidel Castro, Hugo Chavez e Evo Morales. Analfaglota, mas perseverante e inteligente,
acabou decorando várias palavras e expressões estrangeiras: "ies", "óquêi", "tenqui iu",
"gude mornim", "gude ivin" "gude naite", "naice tu miti iu", "gude bai", mas decorou com
mais facilidade "blude méri", "drai martine", "rai fai", "iscóti" e "quantrô". Não
precisou decorar caipiroska, esse nome ele já sabia, mas quando ía ao Chile optava por
um pisco triplo. Adorava uma rodada de dôrra, regada a "xatenêve di papi", Às vezes
confundia-se com a geografia política: "em que país fica a África?". Se Nova Iorqui é a
capital dos Estados Unidos, porque a "uaiti rorse" fica em "uóxinton?". A oposição era
cruel com ele, mas ele não tinha culpa, afinal era filho de uma senhora que nasceu
analfabeta...Chegou a alcançar 84% de aprovação popular, segundo enquete realizada entre
as pessoas que recebiam o programa bolsa família, que a oposição, duplamente cruel,
apelidava de caça votos. Foi o criador do PAC, programa de aceleração da campanha, mas
como era um cidadão humilde, abdicou da paternidade transferindo-a para uma senhora
muito doce a quem intitulou mãe do PAC”.

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