sábado, dezembro 20, 2008

Sobre o Alzheimer

Roberto Goldkorn é psicólogo e escritor


Meu pai está com Alzheimer. Logo ele, que durante toda vida se dizia 'o Infalível'.. Logo ele, que um dia, ao tentar me ensinar matemática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto. Logo ele que repetiu, ao longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: esternocleidomastóideo.

O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas, para mim, basta saber que ele esquece o meu nome, mal anda, toma líquidos de canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os famosos delírios paranóicos comuns nas demências tipo Alzheimer.

Aliás, fico até mais tranqüilo diante do 'eu não sei ao certo' dos médicos; prefiro isso ao 'estou absolutamente certo de que.....', frase que me dá arrepios.

E o que fazer... para evitarmos essas drogas?

Como?

Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, criando novos circuitos neurais que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida 'bandida'.

Meu conselho: é para vocês não serem infalíveis como o meu pobre pai; não cheguem ao topo nunca, pois dali, só há um caminho: descer. Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua eficácia, principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos.

Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos. Leiam e se empenhem em entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.

Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades: 7 de cada 10 doentes nunca ligaram para essas 'bobagens' e viveram vidas medíocres e infelizes - muitos nem mesmo tinham consciência disso.

Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro.
Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? Hum.... Preocupante). Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade. Parodiando Maiakovski, que disse 'melhor morrer de vodca do que de tédio', eu digo: melhor morrer lutando o bom combate do que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer.

Dicas para escapar do Alzheimer:

Uma descoberta dentro da Neurociência vem revelar que o cérebro mantém a capacidade extraordinária de crescer e mudar o padrão de suas conexões.

Os autores desta descoberta, Lawrence Katz e Manning Rubin (2000), revelam que NEURÓBICA, a 'aeróbica dos neurônios', é uma nova forma de exercício cerebral projetada para manter o cérebro ágil e saudável, criando novos e diferentes padrões de atividades dos neurônios em seu cérebro. Cerca de 80% do nosso dia-a-dia é ocupado por rotinas que, apesar de terem a vantagem de reduzir o esforço intelectual, escondem um efeito perverso; limitam o cérebro.

Para contrariar essa tendência, é necessário praticar exercícios 'cerebrais' que fazem as pessoas pensarem somente no que estão fazendo, concentrando-se na tarefa. O desafio da NEURÓBICA é fazer tudo aquilo que contraria as rotinas, obrigando o cérebro a um trabalho adicional. Tente fazer um teste:

- use o relógio de pulso no braço direito;

- escove os dentes com a mão contrária da de costume;

- ande pela casa de trás para frente; (vi na China o pessoal treinando isso num parque);

- vista-se de olhos fechados;

- estimule o paladar, coma coisas diferentes;

- veja fotos de cabeça para baixo;

- veja as horas num espelho;

- faça um novo caminho para ir ao trabalho.

A proposta é mudar o comportamento rotineiro!

Tente, faça alguma coisa diferente com seu outro lado e estimule o seu cérebro. Vale a pena tentar!

Que tal começar a praticar agora, trocando o mouse de lado?

3 comentários:

  1. Pan um lindo final de semana emendado ao grande Natal....
    Seja muito feliz sempre e realize seus sonhos...
    Bjs do ZC

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  2. Pan
    O Alzheimer é uma doença para a família, o doente entra em um estado de alienação tamanho que não sofre.
    É uma das poucas doenças em que o doente não sofre por não ter consciência de mais nada.
    Faz alguns anos perdi um avô muito querido que do dia para a noite começou a mostrar sinais dessa doença, o calvário da família estava apenas começando, pois ver uma pessoa tão dinâmica, tão forte, determinada, ser reduzida a um quase nada, é duro.
    Sofremos muito por sua condição, e quando a vida fez sua lição e o levou, o sofrimento da família terminou, mas apenas temporariamente, não sabemos quem mais poderá sofrer desse Alemão.
    Mas enfim, é a vida e hoje eu guardo somente o que de bom eu tive enquanto meu querido avô esteve junto a mim e apenas olho para o futuro pensando em quando eu estiver com a idade dele, como será?
    Beijo

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  3. Hoje estou colocando minhas visitas em dia...rsrsrs
    Perdi um tio assim, não lembrava mais de ninguém da família. Mandava minha tia ir embora, senão ela iria ficar "falada" por dormir naquela casa! Meus primos então, não podiam mais ficar hospedados na casa do pai, ele não os reconhecia. Muito triste essa doença. Somos felizardos por sabermos como prevenir.
    Beijão loira.
    P.S.: já estou cozinhando... rsrsrs

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