sábado, outubro 21, 2006

Eu queria voltar a ser criança,
do tempo em que:

Atentado, era um menino travesso.
Droga, era o remédio comprado na farmácia.
Craque, era um exímio jogador de futebol.
Sexo, era masculino ou feminino.
Stress, era coisa de americano.
Depressão, era coisa de panela.
Tráfico, fora abolido pela lei Áurea.
Separação, só de bate boca e brigas na rua.

Matar, só se fosse de fome, sede, saudade, ou raiva.
Bomba, era o que acontecia com quem perdia o ano letivo.
Arma, era coisa de polícia.
Assalto, era a pergunta que a mulher fazia quando ia comprar tamanco.
Violência, era só nos filmes de cowboy.
Desemprego, era o número de empregos que se tinha disponível.
Concorrência, só havia entre garotos, disputando o amor da mesma
menina.

Corrupção, era um vulcão ativo
Mendigo, era o vagabundo, não o trabalhador.
Salário, era sinônimo de sustento, não de pobreza, miséria ou fome.
Ser honesto, não era ser careta e cafona.
Índio, era o dono das terras, não pobre marionete da FUNAI.
Computador, era um malandro desbocado, falando das suas dores.
Miserável, era um sujeito muito pão duro, não a população do meu país.
Imposto, meu pai só ia para abastecer o fusquinha.
Havia diferença entre direita e esquerda, polícia e ladrão.

Será que os tempos mudaram, ou foi eu quem mudou?
Quem sabe tudo isto já havia, mas como era inocente, não percebia.
Quem sabe nada mudou, a não ser no meu interior?
Será o mundo, ou só o meu mundo que precisa mudar?
Pensei que me tornando adulto teria todas as respostas.
Hoje estou mais confuso do que quando era criança.

Pelo sim, pelo não; não posso viver saudosista.
Preso a um tempo que não volta mais.
O futuro se descortina, esta certeza me atrai.
Saber que fico, mas o mundo permanece e vai.
As lembranças vão se apagar.
Quem sabe o que aprendi possa me modificar?

Os meus pais construíram o passado, do qual estou a relembrar.
O presente eu construí, estou começando a me decepcionar.
Mas reconheço que nunca é tarde para recomeçar, reconstruir um novo
mundo, onde os meus filhos possam habitar.
E, como hoje faço, no futuro venham a se orgulhar, do passado que
herdaram, e precisam preservar, corroborando a prudência do sábio
pensar:

"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um
pode começar agora e fazer um novo fim."

Nenhum comentário:

Postar um comentário