sábado, junho 13, 2009

A MORTE DO AMOR



Todos os dias morre um amor.
Quase nunca percebemos,
mas todos os dias morre um amor...
Às vezes de forma lenta e gradativa,
quase indolor,após anos e anos de rotina.
Às vezes melodramaticamente,
como nas piores novelas mexicanas,
com direito a bate-bocas vexaminosos,
capazes de acordar o mais
surdo dos vizinhos.

Pode morrer em uma cama de motel
ou simplesmente
em frente à televisão de domingo.
Morre sem um beijo antes de dormir,
sem mãos dadas,
sem olhares compreensivos,
com um gosto salgado de lágrima nos lábios.
Morre depois de telefonemas
cada vez mais espaçados,
diálogos cada vez mais resumidos,
de beijos cada vez mais gelados...
Morre da mais completa e letal inanição!

Todos os dias morre um amor,
embora nós, românticos mais
na teoria do que na prática,
relutemos em admitir.
Pode morrer como uma explosão,
seguida de um suspiro profundo
(porque nada é mais dolorido
que a constatação de um fracasso),
de saber que, mais uma vez, um amor morreu.

Porque, por mais que não queiramos aprender,
a vida sempre nos ensina alguma coisa.
Esta é a lição: qualquer amor pode morrer !
E todos os dias, em algum lugar do mundo,
existe um amor sendo assassinado.
Como pista do terrível crime,
surge uma sacola de presentes devolvidos,
uma lista de palavrões sem censura,
ou o barulho insuportável do relógio
depois da discussão...
Afinal, todo crime deixa as suas evidências !

Todos nós podemos ser um assassino.
E podemos agir como age um assassino:
podemos nos esconder debaixo das cobertas,
podemos nos refugiar em salas de cinema vazias,
ou preferir trabalhar que nem um louco,
ou viajar para "espairecer",
ou confessar a culpa em altos brados,
fazendo do garçom o confidente...

Mas há também aqueles que negam,
veementemente, a sua participação no crime, e
buscam por novas vítimas em salas de bate-papo
ou em pistas de danceteria,sem dor ou remorso.
Os mais periculosos aproveitam
sua experiência de criminosos
para escrever livros de auto-ajuda,
com a ironia de quem tem muito a ensinar
para os corações ainda puros.

Existem também os amores que clamam
por um tiro de misericórdia :
ainda estão juntos mas
se comportam como um cavalo ferido,
esperando ser sacrificado.

Existem também os amores-fantasma,
aqueles que se recusam a admitir que já morreram.
São capazes de perdurar anos,
como mortos-vivos sobre a Terra,
teimando em resistir apesar das camas separadas,
dos beijos frios e burocráticos,
do sexo sem tesão (se houver).
Esses não querem ser sacrificados,
mas irão definhar aos poucos,
até se tornarem laranjas chupadas.

Existem ainda os amores-vegetais,
aqueles que vivem em permanente estado de letargia,
que se refugiam em fantasias platônicas,
recordando até o fim de seus dias
o sorriso da ruivinha da 4a.série...
Ou se faz presente na fã que até hoje suspira
e delira em frente a um pôster do Elvis Presley.

Mas eu,
quase já desistindo da minha busca,
pude ainda encontrar uma outra classificação:
os amores-vencedores.
Aqueles que, apesar da
luta diária pela sobrevivência,
das infinitas contas a pagar,
da paixão que decresce com o decorrer dos anos,
da mesa-redonda no final de domingo,
das calcinhas penduradas no chuveiro
e das brigas que não levam a nada,
ressuscitam das cinzas e se revelam fortes,
pacientes e esperançosos.
Mas esses são raríssimos,
e há quem duvide de sua existência.
São de uma beleza tão pura e rara que parecem lendas.

Um dia vou colocar um anúncio,
bem espalhafatoso, no jornal :
PROCURA-SE UM AMOR VENCEDOR
- oferece-se generosa recompensa...

Mas, no fundo, sei que ele
não surgiria como por acaso...

O que esses poucos vencedores falam
é que esse amor foi suado,
trabalhado, bem administrado nas
centenas de situações do cotidiano.
Não é um presente de loteria,
de sorte, nem de magia...

É simplesmente o resultado concreto
daquilo que foi um relacionamento
maduro e crescente entre duas pessoas...

(Procura-se autoria)


.

Um comentário:

  1. Pan, valeria a pena encontrar o autor (a), que me fez ler até o final o que normalmente não passaria nem do titulo.

    Mas isso me fez lembrar - e sempre lembro - do filme "Turista Acidental". Mal me recordo da história, mas há uma hora em que o personagem de Willian Hurt diz à namorada, que insistia em casar, que são muito poucos os casais que se 'afinam' (ou amam) ao ponto de justificar um casamento.

    Se ainda não viu o filme, dá uma olhada.

    Ah! Quase esqueci! Quero minha recompensa.

    Um abração, Ju


    aguardo a recompensa.

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