terça-feira, setembro 23, 2008

A HISTORIA DO JOHN: A CRISE AMERICANA DE FORMA DIDÁTICA

John comprou uma casa, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares, financiada em 30 anos.
Em 2006 a casa do John tinha valorizado e estava valendo 1,1 milhão de dólares, uma fantástica valorização.
Mesmo ainda faltando 20 anos para quitar a casa, um banco perguntou pro John se ele não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, ou seja, uma segunda hipoteca.
Ele aceitou o empréstimo, fez a nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares.
John não precisava do dinheiro, tinha um emprego estável , morava numa simpática casa no subúrbio de uma grande cidade, mas como todo americano, não podia escutar a palavra crédito.

Com os 800.000 dólares e ainda sem saber o que fazer com esse dinheiro, John soube por um amigo que o mercado imobiliário continuava valorizando.

Era construir, anunciar, vender e lucrar. Um ótimo negócio e, como disseram pro John, não havia riscos.
John comprou 3 casas em construção, na parte mais nobre da cidade, dando como entrada 300.000 dólares e imediatamente fez mais 3 hipotecas, uma pra cada casa.

Porém no acordo feito, o valor recebido pelas 3 hipotecas era pequeno, o suficiente para terminar a construção das casas.

A diferença, 500.000 dólares, que John recebeu do banco, ele gastou: comprou carro novo (alemão) pra ele. Deu um carro (japonês) para cada filho. E com o resto do dinheiro comprou 8 TVs de plasma de 600 polegadas cada uma (coreanas), 8 notebooks(chineses), uma jacuzzi de 30.000 dólares (vietnamita, fabricada com trabalho escravo infantil).

E um lindo ponney (mexicano) para sua filha caçula, financiado em 25 anos (o companheiro ponney irá para o céu dos ponneys e o John ainda estará pagando as prestações).

Alem de realizar seu grande sonho de viagem, ir a Paris, ficando hospedado no Ritz pagando 600 euros a diária. (Mesmo estando na cidade com alguns dos melhores restaurantes do mundo e com grana, emprestada, no bolso, John não abria mão do seu hambúrguer no jantar)

Tudo comprado em longas prestações, com entradas bem pequenas, tudo a crédito.
Uma farra.
A esposa do John, sentindo-se rica, sentou o dedo nos seus 28 cartões de crédito.
Aproveitou para fazer algumas cirurgias plásticas, pra ser exato 18.
Seus seios ficaram lindos, os 3.
John era o sonho americano em forma de pessoa.
O tempo passou, o tempo, esse malvado, sempre passa!!
No começo de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo.
As casas que o John tinha comprado e estavam em fase final de construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham liquidez.
O negócio que o John tinha se metido era... refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas em começo de construção e revendê-las com lucro repassando as hipotecas.
Fácil. Parecia fácil. Sempre parece fácil.

Só havia um probleminha com o negócio do John.
Todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo.

As taxas de juro das hipotecas que o John pagava começaram a subir (as taxas eram pós- fixadas) e o John percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre.
Milhões tiveram a mesma idéia do John.

Tinha casa pra vender como nunca.

John foi agüentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das 3 casas que ele comprou para revender, mais as prestações dos carros, dos notebooks, das tv de plasma, da jacuzzi milionária, do ponney e dos cartão de créditos.

Aí as casas que o John comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela.
Só que o John tinha gasto o dinheiro.

No momento da parcela maior, John achava que já teria revendido as 3 casas.

Mas os compradores tinham desaparecido.

John se danou.

Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e das 3 casas que ele havia comprado como investimento.

John começou a não pagar suas milhares de contas.

Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais ao John.

E também das milhões de pessoas que compraram essas casas dos que tiveram a idéia antes do John.

John optou pela sobrevivência da família.

John entregou aos bancos as 3 casas que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido.

John quebrou.

Ele e sua família pararam de consumir. Um sem número de Johns deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis.

Os bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Johns em títulos negociáveis.

Com a inadimplência dos Johns, esses títulos passaram a valer pó. Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço que esses imóveis não valiam mais.

Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava. A inadimplência dos milhões de Johns atingiu fortemente os bancos americanos e europeus que perderam centenas de bilhões de dólares.

A farra do crédito fácil acabou.

Com a inadimplência dos milhões de Johns, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Johns pararam de consumir porque não tinham crédito.

Mesmo quem não devia dinheiro, não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado. O medo dos Johns de perder o emprego fez a economia travar.

Recessão é sentimento, é medo do futuro.

Mesmo quem pode, pára de consumir.

O FED começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as taxas de empréstimos interbancários. O FED também começou a injetar bilhões de dólares no mercado, provendo liquidez.

O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o consumo. Porém, ainda não se sabe o resultado prático dessas medidas na economia real.

Essas ações foram corretas e, até agora, não é possível afirmar que os EUA estão tecnicamente em recessão. O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias esperançosas.

ATÉ QUE O IMPENSÁVEL ACONTECEU!!!

O pior pesadelo para uma economia: crise bancária, correntistas correndo para sacar suas economias, boataria geral, pânico.
Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu quebrado, insolvente.
O FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse.
Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan .
Mais recentemente as financiadoras de hipoteca FREDDIE MAC e FANNIE MAE também se viram em situação de quase insolvência.
Rapidamente o congresso aprovou um plano de ajuda às duas empresas.
Se elas quebrassem, teríamos um efeito cascata e o sistema desmoronaria.
O mercado e as pessoas seguem sem saber o que esperar.
O que começou com o John, hoje afeta o mundo inteiro.
A coisa pode estar apenas começando.
Só o tempo poderá dizer o que vai acontecer.
E o John e sua família? Você deve estar se perguntando.
John devolveu todos os bens para as financeiras.
E ainda ficou devendo um dinheirão.
Mas o que ele mais queria devolver, ele não conseguiu.
As plásticas da esposa, essas não tiveram jeito.


Este texto é do RAY (http://www.entouragetrading.blogspot.com/)Vale a visita no seu blog!

Um comentário:

  1. olá PAN

    esse texto é meu.
    uma honra ve´lo aqui no seu blog,que alias já está nos favotitos.
    Ray

    http://www.entouragetrading.blogspot.com/

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