sábado, agosto 25, 2007

Não à Violência - O amor pode curar o Mundo.


O Dr. Arun Gandhi,
neto de Mahatma Gandhi e fundador do MK Gandhi Institute,
em palestra proferida em junho
de 2002 na Universidade de Porto Rico:

'Eu tinha 16 anos e vivia com meus pais, na instituição que meu avô havia
fundado, e que ficava a 18 milhas da cidade de Durban, na África do Sul.

Vivíamos no interior, em meio aos canaviais, e não tínhamos vizinhos, por
isso minhas irmãs e eu sempre ficávamos entusiasmados com a possibilidade de
ir até a cidade para visitar os amigos ou ir ao cinema.

Certo dia meu pai pediu-me que o levasse até a cidade, onde participaria de
uma conferência durante o dia todo. Eu fiquei radiante com esta
oportunidade.
Como íamos até a cidade, minha mãe me deu uma lista de coisas que precisava
do supermercado e, como passaríamos o dia todo, meu pai me
pediu que tratasse de alguns assuntos pendentes, como levar o carro à
oficina.

Quando me despedi de meu pai ele me disse:

'Nos vemos aqui, às 17 horas, e voltaremos para casa juntos'.

Depois de cumprir todas as tarefas, fui até o cinema mais próximo.

Distraí-me tanto com o filme (um filme duplo de John Wayne) que esqueci da
hora.

Quando me dei conta eram 17h30. Corri até a oficina, peguei o carro e
apressei-me a buscar meu pai. Eram quase 6 horas.

Ele me perguntou ansioso:

'Porque chegou tão tarde?'

Eu me sentia mal pelo ocorrido, e não tive coragem de dizer que estava vendo
um filme de John Wayne. Então, lhe disse que o carro não ficara pronto, e
que
tivera que esperar. O que eu não sabia era que ele já havia telefonado
para a oficina. Ao perceber que eu estava mentindo, disse-me:

'Algo não está certo no modo como o tenho criado, porque você não teve a
coragem de me dizer a verdade. Vou refletir sobre o que fiz de errado a
você.

Caminharei as 18 milhas até nossa casa para pensar sobre isso'.

Assim, vestido em suas melhores roupas e calçando sapatos elegantes, começou
a caminhar para casa pela estrada de terra sem iluminação. Não
pude deixá-lo sozinho...Guiei por 5 horas e meia atrás dele...Vendo meu pai
sofrer por causa de uma mentira estúpida que eu havia dito.

Decidi ali mesmo que nunca mais mentiria.

Muitas vezes me lembro deste episódio e penso: 'Se ele tivesse me castigado
da maneira como nós castigamos nossos filhos, será que teria aprendido a
lição?

'Não, não creio. Teria sofrido o castigo e continuaria fazendo o mesmo. Mas
esta ação não-violenta foi tão forte que ficou impressa na memória como se
fosse ontem'.

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