sexta-feira, junho 01, 2007

Para se pensar...

Caminhei muito. Encontrei pessoas "sim" e pessoas "não". Gente sorriso e gente sisuda. Poucas meio termo. Todas chamaram a minha atenção e registraram sua passagem conforme suas características. Aprendi o bastante, mas não o suficiente, com cada uma delas. Fui avaliando os detalhes e catalogando as diferentes nuanças, num exercício de vida, que não pude evitar. De uns tempos para cá, tenho refletido sobre um aspecto que me escapou nos pormenores.... É o que se refere ao amor. Existem pessoas que amam e outras que se deixam amar. Parece trocadilho ou, então, inversão de idéias. Asseguro que não se trata de antítese ou metáfora. É a realidade constante, e pouco percebida, das relações afetivas do ser humano. Comecei a montar o quebra-cabeças quando revi pedaços da minha própria trajetória de relacionamentos. Fiquei pasma da quantidade de peças que se encaixaram nessa constatação, de que uns amam e outros se deixam amar. Nossa!

Os que amam se destacam dos que se deixam amar por várias particularidades. Tentar enumerá-las é enveredar por um misterioso universo e, como não tenho o mapa da mina, fica complicado demais. Mas sempre é oportuno assinalar alguns pormenores para esclarecer aos que, também, chegarem a essa conclusão. Quem ama acende a luz e mostra o rosto; quem se deixa amar fica na penumbra e disfarça a fisionomia. Quem ama abre os braços e abre a guarda; quem se deixa amar esquiva-se e esconde-se detrás de armaduras. Quem ama não foge à luta e encara o perigo; quem se deixa amar nunca entra em briga e nem omite opiniões. Quem ama fala, canta, assovia, gesticula; quem se deixa amar faz silêncio entre um murmúrio e outro e se move como sombra. Quem ama sabe; quem se deixa amar desconhece.

Quem ama adivinha; quem se deixa amar omite. Quem ama faz "das tripas, coração" e desempenha o papel com o melhor de si; quem se deixa amar assiste da coxia e, raras vezes, aplaude. Entre amar e se deixar amar está a incompreensão das relações amorosas. Um oferece e o outro recebe. O equilíbrio, o prumo, o fiel da balança é raramente encontrado. Relação de troca? Pode ser! Mas é uma troca desleal e injusta. O que se vê por aí é desencontros e mal-entendidos. De um lado aquele que ama e do outro o que se deixa amar e no meio um vazio de fazer medo. Solidão a dois, sem dúvida.

E... sempre aquele que ama paga o ônus da festa. O que se deixou amar sai ileso e deita a cabeça no travesseiro para mais uma noite de descanso. Afinal, amanhã encontrará alguém que o ame e, então, se deixará amar do alto da sua indiferença e pretensa imunidade. Aquele que amou, continuará amando, independente do troco.
(Maria Alice Estrella)

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